terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Hoje é dia de ser bom.

Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

E as crianças com a tinta invisível / do medo de serem futuro

Em Cruz não Era Acabado

As crianças viravam as folhas 
dos dias enevoados 
e da página do Natal 
nasciam os montes prateados 

da infância. Intérmina, a mãe 
fazia o bolo unido e quente 
da noite na boca das crianças 
acordadas de repente. 

Torres e ovelhas de barro 
que do armário saíam 
para formar a cidade 
onde o menino nascia. 

Menino pronunciado 
como uma palavra vagarosa 
que terminava numa cruz 
e começava numa rosa. 

Natal bordado por tias 
que teciam com seus dedos 
estradas que então havia 
para a capital dos brinquedos. 

E as crianças com a tinta invisível 
do medo de serem futuro 
escreviam os seus pedidos 
no muro que dava para o impossível, 

chão de estrelas onde dançavam 
a sua louca identidade 
de serem no dicionário 
da dor futura: saudade. 

Natália Correia, in 'O Dilúvio e a Pomba' 

domingo, 23 de dezembro de 2018

Aos Herodes do mundo

Nasce Mais uma Vez

Nasce mais uma vez,
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nasce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.
Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.

Miguel Torga, in 'Diários' 

sábado, 22 de dezembro de 2018

Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.


Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre, in 'Antologia Poética' 


sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei


Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas' 


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

REGRESSO AO PASSADO

CLIQUE PARA LER


PHDA e a Avaliação inequívoca.


 Resolução da Assembleia da República n.º 311/2018

 

 Publicação: Diário da República n.º 242/2018, Série I de 2018-12-17
·          Emissor:Assembleia da República
·          Tipo de Diploma:Resolução da Assembleia da República
·          Número:311/2018
·          Páginas:5832 - 5832
 Versão pdf: Descarregar 

·         SUMÁRIO
Recomenda ao Governo a aplicação pelos profissionais de saúde de testes de diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
·         TEXTO
Resolução da Assembleia da República n.º 311/2018
Recomenda ao Governo a aplicação pelos profissionais de saúde de testes de diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que:
1 - Promova um debate amplo, envolvendo a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Psicólogos, sobre a necessidade de aplicação conjunta de várias estratégias e instrumentos de diagnóstico de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).
2 - Sensibilize os profissionais de saúde para a necessidade de utilização de vários testes de diagnóstico de PHDA para obter um conjunto de sintomas que conduzam a uma avaliação inequívoca.
Aprovada em 26 de outubro de 2018.
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

"Pouco usamos do pouco que mal temos". Ricardo Reis


TESE: "O PAPEL DO TRABALHO DE PROJETO NO ENSINO PROFISSIONAL DA DISCIPLINA DE ÁREA DE INTEGRAÇÃO"



Ana Filipa Vieira Lopes Joaquim 
Mestrado em Ensino de Economia e de Contabilidade
Relatório da Prática de Ensino Supervisionada orientado pela Professora Doutora Ana Luísa Rodrigues - Universidade de Lisboa 

Imagem: https://ensinoprofissional2018.wordpress.com

"ver as coisas mais além do que alcança a nossa vista!" António Aleixo



A Administração Regional de Saúde do Centro anunciou que vai iniciar hoje, em fase-piloto, o Rastreio Saúde Visual Infantil nos Agrupamentos de Centros de Saúde Dão Lafões e Pinhal Interior Norte, dirigido a crianças com dois anos.

domingo, 4 de novembro de 2018

sábado, 3 de novembro de 2018

"Ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles." Confúcio


Daisy Christodoulou estuda o desenvolvimento do cérebro e o que daí podemos tirar para melhorar a educação. Veio a Portugal falar sobre a sua especialidade: criatividade nas escolas.
(…)
Também defende a existência de disciplinas em vez de projetos. Convença os pais que agora estão a debater-se com Ciências e História e veem os filhos serem obrigados a memorizar quantidades massivas de informação de que isto é bom.
O homem que mais trabalhou a prática foi o professor sueco K. Anders Ericsson, que fala muito sobre prática deliberada. Diz que para se ser bom em qualquer coisa temos de praticar não só o objetivo final, mas as pequenas partes, o pequeno conhecimento, que fazem o objetivo final. Se queremos ser bons a História temos de saber algumas datas. Se queremos ser bons em futebol, não podemos fazer apenas jogos, é preciso treinar passes. O ponto de Ericsson é que, para treinar uma grande competência, temos de a "partir" em pequenas partes e praticá-las. Portanto, no caso de uma disciplina como História, é preciso saber datas, os eventos-chave, e temos de as lembrar. Há maneiras de o tornar mais interessante. O grande desafio para os professores não é dar às crianças coisas que elas já acham divertidas, mas encontrar maneiras de tornar lúdico o que elas precisam de aprender. Herbert Simon diz o mesmo. Que a tarefa é encontrar maneiras de tornar o conhecimento o mais interessante possível, sem perder de vista o que é importante.
A tecnologia pode ajudar. Por exemplo, há aplicações que podem ser úteis. A minha favorita, e que uso agora, é Anki. Mas há outras. QuizletDuolingo, para as línguas. A tecnologia pode tornar o processo de aprender factos mais divertido. Mas também quero sublinhar que Ericsson diz que a prática deliberada é, muitas vezes, difícil. Ele fala em três tipos de prática: trabalho, jogo e treino deliberado. O trabalho é o que as pessoas pagam para fazermos. No caso do futebol, é o jogo. Na escrita, é a composição. E às vezes o trabalho é interessante. Mas no meio está o treino. Praticar as pequenas partes. Ericsson diz que é difícil, mas é necessário e não aparece espontaneamente. Ele fala muito sobre a música e como ser bom na música. O trabalho é a peça que se toca no concerto. O jogo é quando praticamos com amigos. A prática deliberada são as escalas, tocar as mesmas pequenas peças uma e outra vez para ser bom nelas. O que nem sempre é divertido. Aprender deve ser o mais divertido possível, mas é preciso ser honesto e admitir que há um limite. Podemos pensar no que a tecnologia pode fazer e eu estou interessada na tecnologia, e há possibilidade para a joguificação, tornar mais lúdico. Devemos tornar a aprendizagem o mais lúdica possível, sem perder de vista a essência.
Para ler toda a entrevista, clique aqui.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência"*

Criado organismo para garantir direitos das pessoas com deficiência
Os partidos com assento parlamentar assinaram esta quinta-feira um projeto-lei que prevê a criação de um organismo para monitorizar os direitos das pessoas com deficiência. O Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência será votado na sexta-feira.
Notícia transcrita do EXPRESSO DIÁRIO de 18/10/2018

*Nada devia ter um nome por medo que esse nome o transforme. (Virgínia Woolf)

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Por falar em escolaridade obrigatória


Metade dos alunos com idades entre os 13 e os 15 anos, em todo o mundo, passa por situações de violência na escola ou nas imediações do estabelecimento de ensino, revela um estudo da Unicef.
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Tribunal aceita abandono escolar de jovem cigana em nome da tradição

Rapariga de 15 anos frequentava o 7.º ano. Juíza concede que jovens de hoje sigam “caminhos diversos e igualmente recompensadores que não simplesmente a frequência da escolaridade até à maioridade”
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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Tinha Síndrome de Dawn, um tipo de autismo e uma metralhadora de brincar. Eis uma situação ameaçadora!


Eric Toll tinha Síndrome de Down e foi alvejado numa rua da capital sueca, na madrugada de quinta-feira

Foto tirada daqui
Polícias suecos mataram a tiro um jovem de 20 anos por ter na sua posse uma metralhadora de brincar, na sequência do que os três agentes envolvidos consideraram uma "situação ameaçadora". De acordo com os seus relatos, Eric Toll não respeitou o pedido para poisar a arma, que os polícias acreditavam ser verdadeira, e foi baleado.
O acontecimento deu-se na madrugada de quinta-feira em Estocolmo, na Suécia, depois de Eric Toll sair de casa e ter sido dado como desaparecido pela família.
À agência de notícias sueca Expressen, a mãe, Katarina Söderberg, contou que a arma de brincar tinha sido um presente e que o filho era "o homem mais gentil do mundo".
O jovem foi levado para o hospital mas não resistiu aos ferimentos. "É impossível entender, ele não fazia mal a uma mosca", afirma a mãe.

Além de Síndrome de Down, Eric Toll tinha um tipo de autismo. De acordo com a agência de notícias sueca, está, neste momento, em andamento uma investigação sobre uma possível má conduta profissional por parte dos polícias.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Excentricidade identitária? O nosso futuro próximo é isto?


Devemos banir geneticamente os surdos?

Em 2002, um casal de lésbicas surdas decidiu ter um filho igualmente surdo. Candace McCullough e Sharon Duchesneau procuraram assim um dador de esperma surdo. Não viam elas na surdez uma debilidade? Não. A surdez era, para elas, uma marca identitária
como a orientação sexual. O filho, surdo, nasceu alguns anos depois.
Este é um caso extremo do politicamente correto ou das “identity politics”. A criação de “culturas” e “comunidades” por tudo e por nada gerou este caso surreal: orgulho identitário na surdez. No entanto, se há aqui um excesso, há também um fundo de verdade. Qual é o limite moral das modificações genéticas? Devemos banir geneticamente os surdos? A questão não é se podemos ou não, se é possível ou não. A possibilidade é ou será real em breve. Já não estamos no campo da possibilidade, mas sim no campo da legitimidade: é legítimo banir ou modificar ainda no estado de embrião uma pessoa surda? Aqui há duas questões. Primeira, vamos assumir que banimos, modificamos ou melhoramos os surdos ainda na fase embrionária. Como é que se sentirão as pessoas surdas ainda vivas? Não tendo a excentricidade identitária de Candace McCullough e Sharon Duchesneau, estas pessoas têm contudo o seu orgulho. Apesar da debilidade, fizeram a sua vida. Fazem parte da diversidade do género humano.
Segunda questão. Depois de banirmos os surdos, qual seria o próximo alvo? Os cegos? Os anões? As lésbicas? Um casal homofóbico poderá modificar geneticamente a sua filha se a medicina descobrir o gene gay? O casal que luta contra o aborto de crianças com trissomia será o casal que modificará ou abortará o seu bebé gay? Não pensem que isto são bizantinices. O nosso futuro próximo é isto.

Henrique Raposo (Expresso Diário de 31/07/2018)

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O mundo pode ser um palco. Mas o elenco é um horror.(Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde)

Pelo menos 232 civis foram mortos em ataques das forças governamentais do Sudão do Sul e seus aliados. Há cerca de 120 mulheres e meninas violadas, incluindo uma criança de quatro anos. E há idosos e pessoas com deficiência queimados vivos. É este o balanço que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos faz em pouco mais de um mês no estado da Unidade, no Sudão do Sul.
Lido no Expresso Diário (11-07-2018)

sexta-feira, 6 de julho de 2018

No centro da atividade da escola estão o currículo e as aprendizagens dos alunos. (Decreto-Lei n.º 54/2018 de 6 de julho)



Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho, estabelece o regime jurídico da educação inclusiva.

O que é?
Este decreto-lei cria as condições para as escolas serem espaços de inclusão capazes de reconhecer a diversidade de todas/os as/os alunas/os e de dar resposta ao seu potencial e às suas necessidades individuais.

O que vai mudar?
Passa a existir um modelo de aprendizagem flexível, capaz de reconhecer as necessidades, o potencial e os interesses das/os alunas/os e de contribuir para todas/os serem capazes de adquirir uma base comum de conhecimento ao longo do seu percurso escolar, independentemente da oferta educativa e/ou formativa em que estejam inscritas/os.

Este modelo aplica-se em:

- agrupamentos de escolas

- escolas não agrupadas

- escolas profissionais

- todos os estabelecimentos da educação pré-escolar

- todos os estabelecimentos do ensino básico

- todos os estabelecimentos do ensino secundário.

Linhas de atuação e medidas de suporte à aprendizagem
As escolas devem definir orientações que promovam uma cultura que ofereça oportunidades para aprender a todas/os as/os alunas/os e lhes dê condições para atingirem todo o seu potencial até ao 12.º ano. Para garantir esses objetivos, as escolas têm de definir indicadores que permitam medir a eficácia das medidas postas em prática para os atingir.

Os objetivos definidos nas linhas de atuação para a inclusão são atingidos através de um conjunto de medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, dando especial atenção ao currículo e à aprendizagem. Existem vários tipos de medidas:

- universais — para todas/os as/os alunas/os

- seletivas — para preencher possíveis falhas da aplicação das medidas universais

- adicionais — para resolver problemas comprovados e persistentes não ultrapassados pelas medidas universais e seletivas.

Cria-se um processo para identificar as medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão consideradas necessárias. Este processo baseia-se em evidências identificadas pelos profissionais da escola com a participação de:

- mães e pais

- encarregadas/os de educação

- técnicas/os ou serviços de apoio que se relacionam com a criança ou a/o aluna/o.

Recursos específicos de apoio à aprendizagem e à inclusão
Os recursos humanos especializados são essenciais para atingir a inclusão nas escolas. O sucesso desse objetivo depende da participação de:

- professoras/es de educação especial

- técnicas/os especializadas/os

- assistentes operacionais, de preferência com formação específica.

Além disso, são criados:

- equipas multidisciplinares de apoio à educação inclusiva

- centros de apoio à aprendizagem.

E mantêm-se:

- as escolas de referência no domínio da visão

- as escolas de referência para a educação bilíngue

- as escolas de referência para a intervenção precoce na infância

- os centros de recursos para a inclusão

- os centros de recursos de tecnologias de informação e comunicação para a educação especial.

Que vantagens traz?
Com este decreto-lei pretende-se criar as condições para que as escolas sejam espaços de inclusão que respeitem a diversidade de todas/os as/os alunas/os e lhes ofereçam oportunidades de aprendizagem e soluções para o sucesso escolar até ao 12.º ano.

Quando entra em vigor?
Este decreto-lei entra em vigor no início do ano escolar de 2018-2019, devendo as escolas aplicá-lo ao preparar este ano letivo.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Preocupada por chegar atrasada à escola


Era de noite mas ninguém dormia: o vulcão Nevado del Ruiz entrara em erupção. Em Armero, interior colombiano, há muito que se temia este momento. A história terrível de Omayra Sánchez acabaria por resumi-lo. Tinha 13 anos quando ficou presa sob os escombros da sua casa, após um deslizamento. E esteve assim 60 horas, enquanto os socorristas tentavam salvá-la. O fotógrafo Frank Fournier captou-lhe a última imagem, mergulhada até ao pescoço no entulho, perdendo e recuperando a consciência. Preocupada por chegar atrasada à escola.“Ela sentia a vida a ir-se embora”, relatou Fournier. No passado domingo, a Guatemala também sofreu a ira de um vulcão. Do alto dos seus 3700 metros, Fuego causou num ápice 75 mortes. Ainda há 192 pessoas desaparecidas. Quantas Omayras haverá entre elas? Luciana Leiderfarb

Lido no Expresso desta semana 

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Salaz, disse ela, referindo-se à cobertura mediática.



O tratamento, que se baseia nos princípios da homeopatia, é legal no Canadá e custa apenas sete euros. No seu blogue pessoal, Anke Zimmermann enalteceu a substância, mas acabou por remover a publicação.

Anke Zimmerman, naturopata canadiana, assumiu, no seu blogue pessoal, ter tratado problemas de comportamento de um menino de quatro anos com saliva de cão raivoso. A substância é legal no Canadá, onde pode ser adquirida por apenas sete euros e tem, até, um nome comercial, Lyssinum. O anúncio surpreendeu a comunidade médica internacional, que reagiu de forma negativa.
Muitos órgãos de comunicação social fizeram eco das críticas de especialistas de várias partes do mundo, que afirmaram que este tratamento não só não traria qualquer alteração comportamental à criança como até poderia tê-la colocado em risco. Segundo Anke Zimmerman, a criança teria sido já anteriormente mordida por um cão raivoso, o que justificaria a sua conduta.
Dificuldades em dormir, um mau comportamento na escola, grunhidos recorrentes e uma aversão à água seriam, no entender da naturopata, sintomas que confirmavam que o menino tinha contraído a doença. No entanto, face à polémica, a especialista acabaria por apagar a publicação, alegando, para além de uma cobertura mediática que apelidou de "salaz", "o respeito pela família da criança".
Em entrevista à edição canadiana do jornal Huffington Post, Phillipa Stanaway, vice-presidente do Colégio de Médicos Naturopatas da Colúmbia Britânica, confirmou a licenciatura em naturopatia de Anke Zimmerman e também o facto do Lyssinum, facilmente acessível através de uma pesquisa em qualquer motor de busca online, ser, efetivamente, um tratamento legalmente permitido.
O cientista francês Louis Pasteur foi o primeiro a desenvolver uma vacina antirrábica em 1885. Na altura, além de extrair o vírus do tecido nervoso de coelhos mortos, que usou como cobaia para criar o tratamento de vacinação, administrou ao mamífero saliva de uma criança que tinha sido mordida por um cão raivoso, mas na altura o animal acabaria por morrer, refere o jornal El Español.

terça-feira, 17 de abril de 2018

"É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos." Baron de la Brede et de Montesquieu*


QUAL É A IDADE IDEAL PARA ENTRAR PARA A ESCOLA PRIMÁRIA?

(…)

Posto isto, importa perceber quais são os factores que permitem perceber se a criança está preparada para ingressar na Escola Primária ou não. E eles são, basicamente, dois: a capacidade cognitiva e a maturidade.

Capacidade cognitiva
É, sem dúvida, o mais fácil de avaliar. Actualmente existem uma série de testes que permitem quantificar o Quociente de Inteligência (QI) das crianças de forma bem objectiva, pelo que não é difícil perceber se a criança tem “capacidade” ou não para acompanhar as exigências. Para além disso, com esse tipo de avaliação torna-se possível também perceber quais as áreas mais fortes e mais fracas da criança, o que ajuda a estabelecer melhor de que forma aquela criança precisa de ser estimulada.
Na prática, a maior parte das crianças ditas “condicionais” acabam por ter um QI que lhes permite, do ponto de vista cognitivo, acompanhar as outras, pelo que não costuma ser este o aspecto que mais condiciona a decisão dos pais.
Maturidade

É muito subjectiva e, como tal, não existe nenhum método muito eficaz para a avaliar. Depende de muitos aspectos que não se conseguem quantificar, pelo que é uma área onde são os pais quem melhor pode tirar conclusões. Apesar de ser possível ter uma ideia geral, nenhum profissional de saúde consegue dar uma opinião muito fundamentada em relação à maturidade de uma criança. E devia ser exactamente este o principal discriminador para decidir se a criança avança ou não…
A maturidade é algo que não se aprende, pois é “biológica”. Precisa de tempo para se desenvolver e não se adquire por imitação. Os comportamentos podem-se imitar, mas a maturidade tem que ir surgindo. E quando não está presente, as dificuldades vão-se fazer notar. Por muitas capacidades que uma criança tenha, se não tiver maturidade para entender o que se lhe ensina e o que se lhe exige, os seus resultados vão sempre ficar aquém do que ela merece e é capaz. E esta questão pode fazer a diferença entre a positiva e a negativa, como é lógico, mas pode também fazer a diferença entre um aluno ser brilhante ou “apenas” muito bom.
Assim, em jeito de conclusão, diria que a regra deveria ser que só entrariam para a Escola Primária as crianças com 6 anos já feitos. Pontualmente poderia abrir-se uma ou outra excepção, mas essa seria a decisão mais acertada para a esmagadora maioria. Não é preciso pressas, apenas respeitar o que a biologia nos diz e os estudos comprovam. Sei que haverá muita gente que discorda desta opção, mas acredito mesmo que é a mais acertada.
Todas as crianças devem ter oportunidade de usar as capacidades que têm e, para isso, precisam de maturidade e segurança. E, acredite, todas elas têm muitos anos para ser adultos, mas muito poucos para ser crianças. E atrevo-me até a dizer que é quase “criminoso” impedir que elas usufruam desses poucos anos que têm enquanto crianças…

*http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/baron-de-la-brede-et-de-montesquieu.