quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Estudar faz bem ao estudante, à Escola e à Economia



Como explicar por que é que em nenhum outro dos 35 países da OCDE o abandono escolar no ensino secundário é tão alto como em Portugal?
Seja qual for o prisma, a evolução do sistema educativo português está acima de qualquer dúvida. Há mais alunos a concluir o secundário — a taxa de conclusão subiu de 50 para 82% entre 2005 e 2015 —; esse crescimento foi o maior entre os 35 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE); Portugal é dos poucos membros nos quais a tendência de melhoria contínua de resultados está mais consolidada; os progressos em estudos sobre literacia (como é o caso do PISA) são insofismáveis, etc.
Subsiste, porém, a reprovação ou o abandono escolar, o reverso da medalha que importa agora reverter. Em nenhum outro país europeu o chumbo escolar está tão interligado com níveis socioeconómicos e culturais das respectivas famílias como por cá. Portugal e a Holanda têm níveis de reprovação altos. Mas enquanto no primeiro quem reprova é oriundo de estratos económicos e culturais abaixo da média, no segundo há uma paridade entre classes sociais. Como explicar por que é que em nenhum outro dos 35 países da OCDE o abandono escolar no ensino secundário é tão alto como em Portugal? A par deste dado — mais de um terço nos estudantes não atinge aquele nível de ensino —, o relatório Education at a Glance 2017 refere outra particularidade: apenas metade dos estudantes termina em três anos o percurso entre o 10.º e o 12.º ano. Como explicar por que é que 35% abandona a escola sem um diploma, cinco anos após o início do secundário, quando a média da OCDE é de 68%?
Aquele relatório, relativo ao ano lectivo de 2014/2015, coincide com a chegada ao 12.º dos primeiros alunos abrangidos pela escolaridade obrigatória até aos 18 anos e, sobretudo, com o período de intervenção da troika. A desvalorização do papel da escola ou a carência económica sempre foram factores endémicos do emprego precoce em Portugal, marcado por uma cultura de trabalho infantil nas décadas de 80 e 90 do século passado, e não custa aceitar que condicionantes deste tipo sejam explicações plausíveis.
Sabemos que o percurso escolar determina, em grande parte, o percurso profissional e os dados da OCDE reforçam-no: os jovens adultos entre os 25 e os 34 anos, com o ensino secundário concluído, têm uma menor taxa de desemprego comparativamente a quem o abandona (9% contra 17%). Estudar faz bem a quem estuda, faz bem às escolas e faz bem à economia.