domingo, 22 de maio de 2016

BOM DOMINGO!

   
  "Meu livro é para vós, para vós feito...
                  é para vós, mulheres do meu país."        

 A obra escrita de Domingos Monteiro, em horas de isolamento e de evasão,
revela, inevitavelmente, a personalidade de um grande conversador. 
Através das suas narrativas, o escritor confessa-se e olha para o mundo
exterior, numa ânsia de liberdade.  Foi este anseio de liberdade que o
levou, ainda jovem, a fundar o "Partido da Renovação Democrática" e
depois o jornal "Diário Liberal" de que foi membro da Comissão Directiva
e Director Executivo.  Já licenciado, foi advogado de defesa de Mário
Castelhano e de Manuel Rijo e de muitos outros opositores do regime
político então vigente.

Domingos Monteiro tinha, entretanto, contraído matrimónio  com D. Maria
Palmira de Aguilar Queimado (1938).  Deste casamento, nasceu a sua única
filha, Estela, hoje Professora  da Faculdade de Medicina de Lisboa.

O casamento foi dissolvido por divórcio, em 1946, e só muito mais tarde,
em 1971, Domingos Monteiro contrai de novo matrimónio, com D. Ana Maria
de Castro e Mello Trovisqueira.

Já nessa altura os seus méritos de Escritor tinham sido publicamente
reconhecidos.  Em 1965 o seu livro O Primeiro Crime de Simão Bolandas
tinha recebido o "Prémio Nacional de Novelística"; no mesmo ano, o Dr.
Domingos Monteiro foi eleito Sócio Correspondente da Academia de
Ciências de Lisboa.  Como Sócio Efectivo, sucedeu, em 1969, na Cadeira
que tinha pertencido a Aquilino Ribeiro, logo antes de Delfim Santos.
O Brasil, por proposta de Pedro Calmon e Jusoé Montello, entregou-lhe
igualmente o lugar que, na Academia Brasileira de Letras tinha
pertencido a outros ilustres escritores portugueses:  Eugénio de Castro,
Augusto de Castro e Joaquim Paço d'Arcos.

Outras distinções consagraram a sua obra: de novo o "Prémio Nacional de
Novelística", em 1972, o "Prémio Diário de Notícias" em 1967.

Vários livros e contos foram traduzidos em Castelhano,Catalão, Inglês,
Alemão, Polaco e Russo, e incluídos em diversas antologias nacionais e
estrangeiras.

E o Cinema não deixou  de aproveitar as suas novelas para a realização
de grandes-metragens, apresentadas nas salas de  televisão.

Para além da sua actividade de escritor e editor, à frente da Sociedade
de Expansão Cultural, que durante vários anos divulgou as obras de
autores portugueses, muitos deles até então inéditos, Domingos Monteiro
dedicou os últimos vinte e dois anos da sua vida profissional ao Serviço
de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, que ajudou a            
criar.

Foi na novelística que Domingos Monteiro mais se distinguiu.  A sua
prosa é directa e fluente.  António Quadros assim o reconheceu, ao
afirmar:

"Uma novelística da razão vital, como a que realizou, intuitiva e
exemplarmente, Domingos Monteiro, é uma novelística que se amplia                         
a todas as dimensões de ser homem, na sociedade, na natureza, no tempo e
no mistério de existir."

Na bibliografia de Domingos Monteiro só aparece uma obra ostensivamente
designada por romance, Caminho para Lá, talvez por ser constituída por
dezoito capítulos.  Seria a primeira de um tríptico que nunca foi
concluído.

Domingos Monteiro considerava-se um poeta, embora quase toda a sua obra
tenha sido vertida em prosa.  Mas poeta era, sem dúvida.  Para além dos
primeiros livros de versos que publicou na sua juventude, e a que já
atrás nos referimos, apenas nos deixou dois outros livros de poemas:
Evasão, publicado em 1953 e, mais recentemente, uma colecção  de             
sonetos publicada em  1978.  Mas no seu espólio foram encontrados muitos
poemas inéditos, alguns dos quais dedicados a sua futura Mulher, D.Ana
Maria.  Num deles, talvez influenciado pela grande diferença de idades,
diz:

                         "Nunca senti passar o tempo... Nunca!
                         Nunca o tempo jamais me perturbou...
                         E as folhas secas com que o Outono junca o chão
                         sem mágoa ao próprio vento as dou,

                         Nunca senti passar o tempo... e agora
                         Do meu desdém, o tempo se vingou
                         E só por ti minh'alma se enamora
                         Humildemente, do que já não sou.

                         Oh minha ardente mocidade, volta!
                         Por um momento só. Que eu viva apenas
                         Esse momento... e possa merecê-la.

                         Que humildemente aceito, sem revolta,
                         Todas as dores, meu Deus! todas as penas
                         E até a maior pena... a de perdê-la!"



Foi a sua segunda Mulher que teve um papel importante na génese dos seus
contos e narrativas, publicados depois dos anos 60, colaborando
estreitamente com ele, em todas as fases da elaboração do seu trabalho.

Domingos Monteiro arquitectava o enredo dos seus livros e construia
mentalmente o plano da obra.  Os seus últimos livros foram ditados a D.

Ana Maria como quem conta um conto:

Sem comentários:

Enviar um comentário