terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A cegueira do juízo e amor-próprio é muito maior que a cegueira dos olhos.(Padre António Vieira)


Diogo Santos, sete anos, sofre de amaurose congénita de Leber, uma forma hereditária de perda de visão. Um caso raro que acontece à nascença. Perdeu a visão nessa altura.

Nos primeiros cinco anos, frequentou o infantário da cidade, mas desde o ano letivo 2014/2015, altura em que passou para o primeiro ciclo, Mirandela deixou de ter capacidade de resposta, porque não existe uma escola de referência nem foi colocada qualquer professora especializada em Braille.
O Estado criou uma rede de escolas de referência para a inclusão de alunos cegos ou baixa visão. Na região transmontana, só havia duas: ou o Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, em Bragança, ou Diogo Cão, em Vila Real, escola sobre a qual recaiu a escolha.
A rotina diária foi completamente alterada. Diogo levanta-se todos os dias às sete horas para, meia hora depois, estar à porta de casa pronto a viajar até Vila Real, onde frequenta a escola, numa turma com mais 25 alunos. São cerca de 60 quilómetros de táxi. "A escola contratou uma empresa para levar o Diogo e outra menina de Cabanelas", conta o pai, Miguel Ângelo.
O regresso acontece cerca das 17.30 horas, com a chegada a casa às 18.15 horas. São 120 quilómetros diários. "Chega sempre muito cansado e temos menos tempo para conviver porque à noite tem de deitar-se cedo para descansar", conta Isabel Pereira, a mãe do Diogo. No entanto, apesar do cansaço, "a sua ambição em aprender ajuda a ultrapassar tudo", conta o pai.
Pai e mãe confessam que os primeiros meses de escola foram muito difíceis, mas agora começam a adaptar-se. "Temos a noção que esta situação pode aguentar-se até ao 12.º ano, mas como ele gosta e toda a comunidade escolar tem sido fantástica, temos de aguentar", dizem.
Foi lá que aprendeu Braille, o alfabeto convencional cujos carateres são indicações por pontos em alto-relevo que Diogo distingue por meio do tato. "Aqui está o mês de outubro de 2016", descreve, com orgulho, num trabalho de casa.
Recentemente, o Agrupamento de Escolas Diogo Cão fez a entrega de diplomas a alguns alunos que ingressaram no quadro de mérito e excelência pelo seu percurso académico. Diogo foi um dos distinguidos. "Não estava a contar, só me disseram no dia anterior", conta.
A família não esconde o orgulho com a distinção. "Não foram muitos os alunos a receberem esse diploma e o facto de ele ter resultados brilhantes, com todas as limitações e o sacrifício que tem diariamente, faz-nos sentir muito orgulhosos", refere o pai.

 JN

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