Exames no final do 4.º ano já não deverão realizar-se em 2016
Projecto de lei do Bloco de Esquerda
deu entrada no parlamento nesta quinta-feira e contará com o apoio da maioria
parlamentar. Professores e pais aplaudem
Os alunos que actualmente estão no 4.º
ano de escolaridade já não deverão realizar exames finais de Português e
Matemática em 2016. O final das provas, já a partir deste ano lectivo, vai ser
proposto no parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE), no próximo dia 27, através
de um projecto de lei que altera os diplomas aprovados por Nuno Crato, que
instituíram os exames no final do 1.º e do 2.º ciclo, e que contará com o apoio
da actual maioria parlamentar.
Para já, o projecto do BE, a que o
PÚBLICO teve acesso, limita-se a suprimir as provas do 4.º ano, embora no preâmbulo
se reafirme o compromisso assumido no programa eleitoral de também pôr fim aos
exames do 6.º ano. “Esse compromisso mantém-se para além da urgência do
presente projecto e a ele voltaremos com futuras iniciativas”, frisa-se.
Em declarações ao PÚBLICO, a deputada do
BE Joana Mortágua justifica esta opção não só pela necessidade de se garantir
um “consenso amplo” em torno da medida, mas também porque alargar para já o
âmbito das mudanças “poderia significar que este processo se prolongasse por
mais tempo”, o que não é compatível com a sua “urgência”. “Para entrar em vigor
já este ano lectivo não pode conter grandes alterações. Queremos que seja um
processo limpo, claro e cirúrgico” e que também que dê “um sinal simbólico, o
de que um parlamento diferente se traduz numa vida diferente para as pessoas, e
também na educação”, frisou.
No seu programa eleitoral o PS prometeu
“reavaliar a realização de exames nos primeiros anos de escolaridade”, provas
que sempre contaram também com a oposição do PCP e dos Verdes. Quando no início
de Novembro se agendou o debate deste projecto para o próximo dia 27, o
deputado socialista Pedro Delgado Alves confirmou que a posição do PS sobre
este tema é “relativamente convergente” com a do BE e que só decidirá se
apresenta ou não o seu próprio projecto depois de conhecer o do Bloco, que deu
entrada no parlamento esta quinta-feira.
Pais e professores aplaudem
A mudança é aplaudida por pais e
professores. ”Sempre fui contra os exames no final do 1.º ciclo porque são
negativos para as aprendizagens das crianças e para o funcionamento normal do
ano lectivo, nomeadamente devido à altura em que se realizam [em Maio, quando
ainda não acabaram as aulas”, diz Filomena Viegas, responsável na Associação de
Professores de Português (APP) por este nível de escolaridade.
Os exames finais no 4,º ano estrearam-se
em 2013 e Filomena Viegas não tem dúvidas, pela experiência dos últimos três
anos, que “avassalam o quotidiano dos professores a partir do princípio do 2.º
período, quando as aulas passam a ser transformadas em sessões de treino para
os exames”. “Os alunos não fazem mais nada, a partir dessa altura, do que
repetir os testes dos anos anteriores. Temos provas disso”, acrescenta.
Filomena Viegas aponta também outro
efeito perverso dos exames, já apontado pelo Conselho Nacional de Educação:
apesar da percentagem de chumbos ter diminuído no 4.º ano a partir da
introdução dos exames, aumentou no 3.º ano ou seja, salienta, “as crianças
estão a ficar retidas no ano anterior ao do exame com o argumento de que não
estão preparadas” para realizarem esta prova.
A responsável da APP defende ainda que
valorizar apenas a avaliação a Português e a Matemática em idades tão precoces
desvirtua o que deve ser a formação neste nível. “Devemos estar a educar as crianças
para serem bons cidadãos e não só para saberem alguma coisa de Português e
Matemática. E o que tem acontecido é que tudo o resto, a área de Expressões, o
Estudo do Meio, as visitas de estudo, são postas em causa com os exames”,
alerta.
Lurdes Figueiral, presidente da
Associação de Professores de Matemática (APM), aponta no mesmo sentido. “Os
exames vieram introduzir um desequilíbrio curricular ao privilegiarem, logo a
partir de tão cedo, o Português e a Matemática”, adianta, lembrando que a APM sempre
se opôs a estas provas por considerar “não só que não se justificam, como são
contraproducentes“. As aulas passaram a estar muito mais focadas na avaliação
do que nas aprendizagens”, frisa também a presidente da APM, acrescentando
ainda que estas provas “não são um instrumento adequado para providenciar
informação sobre as dificuldades dos alunos, nem as formas de as remediar”. “Só
existem vantagens para que a mudança seja feita já este ano lectivo”, frisa.
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