sábado, 28 de novembro de 2015

Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras.(Paul Léautaud)


A decisão da Assembleia da República de acabar com os exames nacionais do 4.º ano desencadeou sem surpresa uma onda de comentários. Estes comentários, de origem variada e argumentação variável distribuem-se com gradientes variados entre o favorável ao absolutamente contra. Sem querer alimentar o ruído, 10 notas telegráficas e sem hierarquia de importância.

1 – Os exames, só por existirem, não promovem a qualidade do trabalho de alunos e professores. O que promove a qualidade do trabalho é a existência de apoios oportunos e ajustados às dificuldades, currículos e conteúdos adequados, efectivo de turma razoável, autonomia das escolas, qualificação e valorização dos professores, etc.

2 – Os exames não são “traumatizantes” para os alunos. De uma forma geral os alunos convivem com tranquilidade com situações de avaliação. O que pode criar ansiedade a alguns alunos é o discurso de adultos, pais ou professores, sobre os exames, o clima criado em algumas sala de aula sobre a sua realização e a mediatização extraordinária de tal “normalidade”.

3 – Pouquíssimos países têm um exame nacional ao fim de quatro anos de escolaridade. Estarão todos errados mesmo se tal se verifica na maioria dos sistemas educativos melhor posicionados nos estudos comparativos internacionais?

4 – Apesar de eu próprio questionar a sua necessidade, extinguir, sem mais, o exame do 4º ano, tal como instituir um novo exame, requer prudência, avaliação de impacto e contenção de riscos. Não pode ser uma medida avulsa, mais uma, em que a política educativa é fértil em Portugal. A mesma prudência deve considerar-se quando se fala de acabar com mais exames, 6º e 9º, designadamente.

5 – No caso particular do 4º ano a óbvia necessidade de regulação e avaliação do sistema pode, como já foi, ser conseguida com a realização de provas de aferição.

6 – Questionar a bondade do exame como promotor de resultados só por se realizar, que, aliás, os dados recentes não confirmam, não é defender o “facilitismo”. “Facilitismo com consequências sérias é acreditar que instituir exames, muitos exames, é o suficiente para que os alunos aprendam mais e melhor. Não é verdade, medir muitas vezes a febre não a faz baixar.

7 – Temos uma taxa brutal de retenção, 150 000 alunos por ano, a existência de exames não faz, só por si, alterar este cenário devastador e com impactos fortíssimos. Como já afirmei muitas outras dimensões estão envolvidas.

8 – O sucesso de escolar e educativo não tem correlação com o número de exames. Só a título de exemplo e não querendo comparar algo que não pode ser comparável de forma ligeira, a Finlândia apenas tem exames nacionais no final do ensino secundário, não consta que apresente altos níveis de insucesso ou retenção e também não será um sistema “facilitista”.

9 – Vários relatórios de instituições como a OCDE alertam para os riscos de uma sobrevalorização da avaliação externa na qualidade da educação. Um dos riscos é a alimentação de políticas reactivas e menos preventivas, ou seja, desencadear medidas, se tal acontecer o que nem sempre se verifica, face a resultados mais baixos e desvalorizar medidas de prevenção que minimizem o risco do insucesso e, portanto, a remediação.

10 – Dito isto, estou convencido que qualquer de nós continua convencido da sua verdade sobre os exames.

 

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