segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"Roube ainda hoje! Amanhã pode ser ilegal." (Millôr Fernandes)


||| ... falamos logo. é pá, agora não dá mas liga-me ao fim do dia. já nem um café consigo beber descansado. olha, que achas disto? posso levar para ver com calma, aqui não consigo. e assim sucessivamente. numa escola imensa [porque as escolas agora são lugares onde tudo é imenso] estas frases são uma realidade. quase um presente. um aqui e um agora. e como professor podem retirar-me o dinheiro como a todos os outros. mas não me retirem o principal que preciso para ser um bom professor [ou tentar ser melhor do que sou]. o tempo. não me tirem mais tempo. tempo para pensar. tempo para preparar uma aula. tempo para falar [conversar já é proibido] com um colega sobre uma matéria que podemos dar em comum. não me façam correr de cá para lá e de lá para cá. não me roubem mais tempo para os meus alunos. para estar com eles. para os ver. para os ouvir. para os acompanhar. não me roubem mais tempo para eu estudar e poder ensinar mais e melhor. podem roubar-me tudo, fazendo de mim outra coisa qualquer, mas então deixam de me ter como professor. serei tudo menos um professor. porque um professor sem tempo é um vazio. é um funcionário. funciona. às vezes já nem isso. faz o sistema parecer que funciona. restaurem a dignidade do tempo e terão em mim um homem livre para ensinar. roubem-me tudo, mas não me tirem nem mais um minuto para que eu não deixe de funcionar...

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