segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"Todos os homens fecundos da natureza se desenvolvem de uma maneira egoísta; o altruísmo humano, que não é egoísta, é estéril." (Paul Valéry)

Não há altruísmo que não tenha um egoísmo

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Não há altruísmo puro, isto é, altruísmo que não enferme de egoísmo ou interesse individual. Uma afirmação contraditória à superfície e do senso comum. Na realidade não há dar desinteressado, por mais desinteressado que pareça e seja expresso.

Não estou sequer a me referir às ações de beneficiência de um Cristiano Ronaldo, em que a dádiva se torna notícia em todo o lado e pode assumir-se como ação de marketing. Quem dá sem interesse, geralmente não publicita.
Mas, não é por não publicitar que significa ser um acto desinteressado. Nem que seja para ganhar um cantinho no Céu ou, simplesmente, sentir-se bem consigo próprio e realizado ajudando os outros. É uma forma mais pura de altruísmo, mas tem uma pitada de egoísmo algures.
Não há, pois, altruísmo puro. Há formas com menor grau de interesse pessoal (egoísta e individual), mas não em estado puro. Há sempre algo por detrás. Nem que seja a ambição de ser chefe de uma associação de solidariedade social para negociar apoios ou ter um telemóvel de borla.
Faço uma ressalva para não ser treslido. É melhor ser generoso, motivado pelo sentir-se bem e realizado por isso, do que não ser. Muito menos ser alguém que prejudique os outros.
Quer-se apenas dizer que o altruísmo e a beneficiência também visam um benefício próprio, mais natural ou menos natural, mais aceitável ou menos aceitável, mais explícito ou menos explícito. O dar (altruísmo) implica receber (egoísmo, interesse individual). Seja esse benefício material ou não, em maior ou menor quantidade. Não é só o que é material e visível que é benefício ou recompensa.
Na recente peça radiofónica Darkside, de Sir Tom Stoppard, uma personsagem diz o seguinte: "altruism is selfishness in disguise, genetically programed for long term benefits" (altruísmo é egoísmo disfarçado, geneticamente programado para obter benefícios a longo prazo.)
E remata: "there's no such thing as altruism. Natures teaches self interest" (não há tal coisa chamada altruísmo. A natureza ensina-nos o interesse pessoal). E nisto surge o tema "Money" dos Pink Floyd.
É assim a natureza e a condição humanas. Não quer dizer que o altruísmo e a generosidade sejam contra a natureza, mas o egoísmo também faz parte dessa natureza e do próprio altruísmo. Altruísmo e interesse pessoal são lados da mesma moeda.
E após o tema "Money", uma outra personsagem diz o seguinte: "if kindness is only selfishness in disguise (...), the question "what is the good?" wouldn't be about anything except what is best for you" (se altruísmo e generosidade são apenas egoísmo disfarçado, a pergunta "o que é o bem?" resumir-se-ia àquilo que é melhor para ti.)
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