terça-feira, 11 de junho de 2013

Demagogia feita à maneira *


Em Portugal há um provérbio popular que diz que “um mal nunca vem só”. Portugal encontra-se numa situação financeira e económica muito difícil e as receitas da “austeridade a todo o preço” conduziram o país a um maior déficit e mais desemprego do que tinha antes da crise se instalar.
Mas “um mal nunca vem só” e, junto com esta crise, florescem as ideias conservadoras. Para muitos políticos a solução está em olhar para trás, em adotar políticas conservadoras, enfim, o regresso “aos bons velhos tempos”. É este o caso da entrevista ao ministro da Educação e Ciência, publicada na revista Veja de 5 de Junho passado.
Ignora que Portugal conseguiu desenvolver, com a competência e dedicação dos professores, uma escola pública de qualidade e a tempo integral, áreas de enriquecimento curricular, com projetos estimulantes e decisivos avanços na equidade e no apoio à aprendizagem.

Em lugar de explicar porque é que o sistema educativo português conseguiu no espaço de uma geração tão significativos resultados, Nuno Crato vem acusar a educação de “construtivismo ingénuo” (será uma teoria da sua autoria?), opõe as neurociências a Jean Piaget (um pouquinho de estudo seria útil…), diz que o “treino tem que ser exaustivo: tem que se ler muito mesmo sem gostar” (afinal a leitura pode ser uma punição…) e diz que “um mestre tem o dever de transmitir aos seus alunos os conteúdos nos quais se graduou” (esta frase é candidata ao óscar do conservadorismo…).
O ministro da Educação de Portugal apresenta-se como um opositor do sistema educativo que as organizações internacionais consideram um caso de sucesso (e de que ele ironicamente é o herdeiro).
Não é pois de estranhar que exista uma inusitada unanimidade de discórdia com esta política por parte dos especialistas em Educação em Portugal. Nuno Crato dirige a Educação olhando para o retrovisor e todos nós gostaríamos que ele conduzisse a olhar o para-brisas. Mas enfim, a crise há-de passar e este ministro também... É que em Portugal nós acreditamos que “um bem nunca vem só”.
Nuno Crato, nesta entrevista, omite que Portugal fez nas últimas décadas decisivos avanços em todos os setores da Educação como é demonstrado por estudos transnacionais como o PISA.
O autor é professor universitário e presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial. Escreve segundo o Acordo Ortográfico.
*Verso de um canção - Demagogia - de Lena d´Água que pode ouvir aqui

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