sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio previne-o." (Albert Einstein)


É com esta pergunta que o Sr. Ministro responde à perplexidade de muitos perante as decisões emanadas do Ministério da Educação relativamente à realização das provas de exame de final de ciclo previstas para este ano.
A grande novidade, este ano, são as provas finais de 4.º ano, pelo que é nelas que centrarei o problema. E qual é ele, então? O problema, para muitos alunos do 4.º ano (mas não para todos!) será terem de se deslocar a outras escolas para poderem fazer as provas de exame, sem as quais não passam de ano. Só quem não sabe minimamente o que é um aluno de 9/10 anos de idade pode achar que aqui não há um problema.
Os alunos do 1.º ciclo, ao contrário do que acontece nos ciclos de aprendizagem seguintes, estão sujeitos, do 1.º ao 4.º ano de escolaridade, a um regime de monodocência, quer dizer, um único professor responsável por um grupo de alunos. Como é natural, nestas circunstâncias, a educação no primeiro ciclo é uma educação mais ligada aos afectos e, nesse sentido, mais humanizada. Fundamental para o sucesso na aprendizagem é a confiança depositada pelo professor nos seus alunos e a convicção de que cada um deles vai crescer, desenvolver-se e conquistar conhecimento. É porque o professor confia neles que os alunos aprendem a confiar no seu professor — e só nestas condições um aluno estará apto a aprender e um professor apto a ajudá-lo nessa tarefa. É um trabalho que exige confiança mútua! Sem esta base de confiança, não se cria nos alunos do 1.º ciclo vontade de aprender e de estudar, não se incentiva a procura de saber, não se alimenta a imaginação sem a qual nenhuma criança será capaz de pensar bem. Ora, retirar alguns alunos de 4.º ano das suas escolas para a realização de provas de exame, afastálos do seu professor de referência e garantir depois que sejam vigiados num espaço estranho, por professores desconhecidos que não só não podem leccionar no 1.º ciclo, como nem sequer podem ser professores das disciplinas de Língua Portuguesa ou Matemática, sobre as quais incidem as provas — tudo isto, juntinho, é um golpe fatal na plataforma de confiança que, desejavelmente, acompanhou os alunos do 1.º ciclo no seu percurso escolar e na qual se fundou a relação pedagógica do seu professor de sala com eles; tudo isto, juntinho, instaura, sim, um clima de desconfiança, na base do qual parece estar a convicção de que, sem todo este rigor quase policial no momento de realização das provas, estaria certamente instalada a “batota” entre examinadores e examinados.
O ministério, portanto, desconfia: desconfia do que os professores foram capazes de ensinar e desconfia do que os alunos foram capazes de aprender; como se estes exames tivessem sido concebidos e a sua realização pensada em função daquilo que os miúdos não sabem — isso é que vai ser importante perceber! Como explicar de outro modo medidas tão contra as crianças, se percebermos ou soubermos o que cada uma é nas diferentes fases do seu crescimento?
Creio que qualquer professor digno do estatuto profissional que reclama para a sua carreira se devia erguer contra estas medidas. E qualquer encarregado de educação, movido pelo amor ao seu educando, devia fazer o que estivesse ao seu alcance para impedir este estado de coisas. É inadmissível que algumas crianças do nosso país se sujeitem a este duplo atentado: à sua dignidade pessoal, por um lado, e ao seu direito à igualdade de oportunidades, por outro, dado que nas escolas em que há mais do que o 1.º ciclo de ensino a ser leccionado, os alunos do 4.º ano poderão realizar os seus exames noutras condições — pelo menos, no espaço que sempre conheceram, na escola em que sempre estudaram, sem terem que deslocar-se a outras instalações. Ora, a circunstância de se ter estudado em escolas de maior ou menor dimensão não pode justificar condições desiguais num momento de prestação de provas, cujo resultado determina em 25% a classificação final dos alunos. Há aqui algo de muito pouco democrático. E isso, Sr. Ministro, é também parte do problema! 
(Público de hoje)

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