segunda-feira, 29 de abril de 2013

"O fim justifica os meios." (Maquiavel) X "Há meios que não se podem justificar." (Camus)


Imagem tirada daqui
As escolas estão em extinção, os grupos disciplinares desapareceram e os auxiliares de acção educativa também. Estes são três exemplos do que a ideologia «exceliana», que há uns largos anos nos governa, tem feito relativamente a quase tudo o que é significante, do ponto de vista da educação. Na mente e na linguagem do «administrês» ou do «economês» (que repugnam tanto ou mais do que as do «eduquês») as escolas passaram a «unidades orgânicas», os grupos disciplinares passaram a «grupos de recrutamento» e os auxiliares de acção educativa passaram a «assistentes operacionais». 
O significante «Escola», cujo significado actual nos liga ao Saber, ao Ensinar, ao Aprender, ao Educar, não cabe numa célula do «Excel», mas o (in)significante «unidade orgânica» já lá cabe, tal é a pobreza do seu significado. 
O significante «grupo disciplinar» foi substituído pelo (in)significante «grupo de recrutamento» com um número à frente. O que outrora foi o grupo disciplinar de português, ou de matemática, ou de história, ou de filosofia, ou de... passou a «grupo de recrutamento» número x, ou y, ou z, ou... De uma assentada, anula-se a ordem do saber, que era a razão de ser do grupo disciplinar, e substitui-se pela ordem do alistamento ou do arrebanhamento. Os professores passam de docentes identificados e ligados a saberes, que a civilização durante milénios produziu, a uma massa anónima de recrutas com um número à frente. 
Por sua vez, o significante «auxiliar de acção educativa» foi substituído pelo (in)significante «assistente operacional». O significante «auxiliar de acção educativa» tinha o significado de fazer do funcionário um adjunto do professor na acção educativa, de responsabilizá-lo e de integrá-lo naquilo que é uma das missões fundamentais da escola. Pretendia-se precisamente aquilo que o (in)significante «assistente operacional» não faz. Isto é, não faz do funcionário coisa alguma nem o integra em coisa nenhuma.

Os homens e as mulheres do «Excel» têm horror aos significantes cujo significado extravase a dimensão de uma quadrícula, e deleitam-se com tudo o que tenha odor ou aparência de «tecnicidade», «operacionalidade», «organicidade», «concreticidade». Têm pavor à substância e à qualidade, o seu mundo não abarca mais do que a forma e a quantidade.
Mas o que é preocupante não é a existência destas mentes quadriculadas, o que verdadeiramente preocupa é a passividade e o acriticismo com que se aceita e se reproduz tanta miséria de intelecto.

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