quinta-feira, 11 de abril de 2013

"O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites." (Albert Camus)

Para levar a sério os primeiros exames do 4.º ano, criou-se uma logística que anda perto do caos
 Quando o ministro da Educação, Nuno Crato, anunciou em Março de 2012 que os alunos do 1.º ciclo iriam fazer exames como os outros, no final do 4.º ano, toda a gente estava longe de imaginar que isso implicaria um cenário caótico. No entanto, foi esse mesmo cenário que anteontem esteve em discussão nas reuniões entre representantes das direcções escolares e do Júri Nacional de Exames. Os exames finais do 1.º ciclo vão, ao que ontem se soube, obrigar muitos alunos dos 2.º e 3.º ciclos a ficar em casa para que os do 1.º possam prestar as respectivas provas nas escolas-sede dos agrupamentos. E os exames, talvez para mostrar que são levados mesmo “a sério”, são revestidos do mesmo secretismo e solenidade dos que possibilitam o acesso ao ensino superior: os alunos são concentrados nas sedes dos agrupamentos e as provas têm de ser entregues, no próprio dia, por soldados da GNR (as provas de aferição dispensavam, como se sabe, tais rituais). Isto para o final do 1.º ciclo não será aburdo? Não faria mais sentido transformar as provas de aferição em exames, com a mesma função e conveniência, mas sem tal encenação? Mantendo os alunos nas suas escolas, mas com um outro tipo de controlo e vigilância? O disparate, que ainda não tem contornos definitivos, chegou a incluir a proposta, essa quase insultuosa, de obrigar os alunos do ensino privado a fazer exames no público, passando às escolas do ensino particular e cooperativo um atestado de incompetência. Seja como for, nos dias 7 e 10 de Maio (ou seja: dentro de muito pouco tempo), quando os alunos do 4.º ano forem fazer exames pela primeira vez (a Português e a Matemática), as escolas vão andar num rodopio para resolver o imbróglio logístico criado por decisões impreparadas e tomadas de ânimo leve. Resta saber o que sairá de tais exames, num país onde a crise afecta cada vez mais o meio escolar e onde o abandono precoce das escolas ainda ronda os 23%, segundo os recentes dados do CNE. 
Público de hoje

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