quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Os recursos contam

Por Kátia Catulo
Investigadores defendem que as medidas de combate à pobreza são mais eficazes que as políticas educativas para combater as desigualdades
Porque é que nas regiões de Lisboa, Porto ou litoral estão os melhores alunos? E porque é que nas regiões autónomas, no Alentejo ou no Interior Norte estão os estudantes com as piores classificações? Um estudo publicado ontem sugere que os recursos disponíveis nas escolas fazem parte da resposta e pesam tanto como o contexto familiar ou as características próprias dos alunos.
A investigação “Diferenças Regionais no Desempenho dos Alunos Portugueses”, publicada com o boletim económico de Inverno do Banco de Portugal, usa os dados da OCDE de 2009 para tentar perceber que impacto têm as desigualdades regionais no desempenho escolar dos alunos. À partida, é de esperar que as regiões com melhor nível de vida e com maiores índices de habilitações das famílias, como é o caso de Lisboa ou Porto, sejam também aquelas onde se concentram os melhores estudantes. Mas o que este estudo sugere ainda é que a influência da escola é tão decisiva como os pais ou as características dos alunos.
Procurando perceber em que medida as características das escolas explicam as diferenças regionais – Lisboa foi usada como região de referência –, os investigadores concluíram que ter mais ou menos recursos nas escola pode contribuir significativamente para o rendimento académico. Essa relação é particularmente forte no Norte Interior, no Baixo Alentejo e no Centro Interior, onde os “baixos recursos educativos” contribuem para os piores resultados escolares. Tanto a Matemática como a Leitura – duas competências avaliadas no estudo da OCDE – foi possível concluir que um aluno com o mesmo contexto familiar e a frequentar uma escola com características similares teria um desempenho pior nas regiões autónomas e no Norte Litoral que nas restantes regiões portuguesas.
Outra conclusão do estudo é que a maior ou menor rede de escolas numa determinada região parece influenciar também o rendimento. No Porto e no Centro Litoral, aliás, a oferta de escolas parece aumentar a desigualdade no desempenho académico entre os alunos.
Os autores concluem que proporcionar às famílias maior oferta de escolas poderá ter ainda assim efeitos contraditórios. Por um lado, pode aumentar a segregação entre bons e maus alunos, conduzindo a uma maior concentração dos melhores estudantes em certas escolas; por outro, uma maior escolha pode também criar incentivos para subir a produtividade das escolas e ao mesmo tempo alargar o conjunto de escolhas para os estudantes mais desfavorecidos.
As escolas, contudo, não explicam por si só as desigualdades observadas. Os autores, aliás, defendem que a melhor forma de combater as diferenças no desempenho dos alunos passa sobretudo por promover políticas de combate à pobreza. “Para alterar os padrões globais de desigualdade, as políticas que incidam sobre a pobreza e as questões sociais tenderão a ter mais sucesso que as políticas focadas exclusivamente em questões educativas”, remata o documento.

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