sábado, 22 de dezembro de 2012

"Todos têm direito de se enganar nas suas opiniões. Mas ninguém tem o direito de se enganar nos factos." (Bernand Baruch)


Os professores portugueses são no conjunto dos países da OCDE dos que mais horas de aulas dão por ano. Do estudo exaustivo da OCDE, "Education at a Glance 2012, OECD Indicators", o Expresso deu eco resumido. Poucos ligaram.
Os dados lá estão acessíveis neste documento de 570 páginas. Desalentam o brio luso. E desmentem o anátema que tem sido lançado sobre a situação de privilégio dos docentes portugueses. Ficam bastante acima da média europeia em excesso de trabalho. Ou, se quisermos ser mais precisos, estão bastante em baixo. Mais deprimidos ainda é possível.
Trabalham com turmas maiores e permanecem muito mais tempo na escola. A situação tem vindo a agravar-se desde 2000. Para além disto, que não é pouco, vêem a progressão na carreira interrompida há anos, assistem de fúria contida à extorsão dos subsídios, e vêem-se às dezenas de milhar no desemprego.
As escolas entretanto foram alindadas com os dinheiros públicos da Parque Escolar. Mas muitas viram as obras suspensas, por falência dos empreiteiros ou porque o orçamento foi ultrapassado ou cortado. Outras, bastante degradadas, nem puderam iniciar obras prometidas e orçamentadas. Foram expelidas para as calendas gregas.
E mesmo nas mais modernaças, onde entra luz a rodos, o ambiente no seu interior é soturno e de cortar à faca, dizem-me antigos colegas.
Os professores são submergidos com trabalho burocrático inglório. A sua opinião nada conta. São-lhes exigidos relatórios e mais relatórios que ninguém lê e cujo único fito parece ser o de arranjar papelada para uma futura inspecção do Ministério da Educação certificar que vai tudo maravilhoso.
Para as questões didácticas e pedagógicas, as verdadeiramente importantes, não há tempo. E cada vez menos vontade. A desmotivação é persistente. E só por excesso de auto-mutilação profissional, e sacrifício familiar, a esmagadora maioria dos professores não deixa de acorrer com afecto e zelo aos seus alunos.
O Ministério da Educação exige de um professor que seja um burocrata. Não um pedagogo. Que preencha formulários a eito, que planifique milimetricamente as aulas, que avalie com balança de precisão, como quem pesa a dose, o que é vago, impreciso e inquantificável. No fundo que se desenrasque e tente encher o olho a quem, entediado, passe os olhos por cima de umas linhas e de uns excelsos quadros em excel. Em última instância, que endromine através de uma grelha, de um escala de valores pseudo-científica, de um jargão administrativo, o "eduquês", que um homem sensato promovido a ministro de um governo medíocre agora não pode arrasar.
Com esta sanha administrativa as vítimas são as mesmas de sempre, os alunos oriundos de meios socio-culturais desfavorecidos que chegam mal à escola. E mal por ela passam, divertidos, a caminho de um lugar vazio. Mas muitos outros que investem o melhor do seu esforço para irem acabar a passar códigos de barras em grandes superfícies, tarefa para a qual se qualificaram em universidades de prestígio e outras nem por isso.
É este o futuro que nos vão vendendo, barato, baratinho. Uma marca branca para usar até à idade madura ou até cair de maduro. E quem lá chegar que se amanhe.

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