terça-feira, 12 de junho de 2012

Os desafogados têm um transtorno, os remediados, um problema e os pobres, o fim dos estudos.

Percebo que a ideia de responsabilizar os pais pelos erros dos filhos seja apelativa. Não nego, longe disso, que a demissão dos pais (ou outros encarregados de educação), sobretudo durante a escolaridade obrigatória, torna o trabalho das escolas impossível. Não desprezo a importância da disciplina num espaço cheio de crianças e adolescentes para todos nos sentirmos minimamente seguros e para que a escola cumpra a sua função. Muito menos contesto a importância que se dá ao envolvimento dos pais. Acredito que isso depende mais do ambiente que se cria na escola e do tipo de proximidade que se consegue ter com os pais do que de mil e um regulamentos que satisfaçam a opinião pública e aliviem pais e professores. E sei duas coisas: que em famílias desestruturadas, de onde veem alguns dos alunos mais complicados em matéria disciplinar, esta medida ou será inútil (porque inaplicável) ou representará uma desistência da escola (se for aplicada com rigor). E que em famílias com mais desafogo financeiro a medida terá muito menos impacto do que nas restantes.
A mensagem que se passa aos alunos é esta: podes comprar as regras e no fim elas apenas são importantes para os pobres. Penalizações financeiras, na escola pública, são a negação de todos os valores que esta escola deve transmitir. Perante a mesma violação disciplinar, os desafogados têm um transtorno, os remediados um problema e os pobres, que dependem do apoio social para manter os filhos na escola, o fim dos estudos. Ou seja, a escola, como a sociedade, será desigualmente exigente.

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