quinta-feira, 3 de maio de 2012

Uma meia verdade repetida mil vezes torna-se verdade?

Vivam os exames!

por VASCO GRAÇA MOURA
Um país que de há muito está "chumbado" em múltiplos aspectos, incluindo os atinentes à sua própria sobrevivência, se quiser mesmo sair desse catastrófico estado de coisas, não poderá deixar de aumentar a sua exigência em matéria de aproveita- mento escolar. Isto é, não pode deixar de encarar os exames e o rigor que lhes seja conexo como factores cada vez mais sérios do sistema e como condições indispensáveis da construção de um futuro decente.
O "eduquês" de serviço ao longo de décadas e de vários espaços ideológicos deu cabo da escola em Portugal. E agregaram-se-lhe a concepção da criança como bom selvagem que devia ser deixada tanto quanto possível nesse estado natural de brutidão, a impreparação de muitos professores, as teorias pedagógicas abstrusas e coladas com cuspo na cabeça de muitos outros, as catadupas de faltas ao serviço com atestado médico, as conspirações corporativas, o laxismo das famílias, a evaporação de um sentido mínimo dos valores e das responsabilidades, e tudo o mais que degenerou no presente estado de coisas. Se, em geral, o crédito bancário era fácil, o consumismo desenfreado, a permissividade total, e ninguém perdia tempo a pensar no dia seguinte, porque é que a escola havia de se comportar diferentemente e de abandonar a lei do menor esforço?
O eufemismo dominante chama agora "retenções" àquilo a que antigamente se chamava "reprovações" e, na gíria escolar, dava pelo nome de "chumbos". E, o que é pior, começa a isolar-se a questão das "retenções" do contexto em que elas ocorrem e a produzir argumentos viciados e viciosos contra uma maior exigência escolar.

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