quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quando o Bibliotecário faz falta

O filósofo e o bibliotecário

Aproximava-se o dia das eleições. «Era necessário fazer qualquer coisa!» – afirmava o nobre político, com convicção perante o seu secretário, enquanto este o alertava para o facto de a grande maioria da população da vila de Gaxate ser composta por analfabetos. «Talvez não seja uma prioridade!?...» – Disse, rumorejando, o secretário. Mas isso não demoveu o alcaide, bem pelo contrário. E em nome da cultura e bem do povo, não se fez rogado. Democraticamente, concluiu ser necessário para a reunião de obra, não só a presença, de pelo menos, um representante de cada um dos três estados da sociedade: a nobreza, o clero e o povo, e ainda peritos vindos da capital, afamados doutores, engenheiros, arquitectos e até ecologistas. – Se não como justificaria o seu nome na futura placa de inauguração do edifício –. No dia da célebre reunião, e com todos os ilustres convidados presentes, os da capital e os da terra, inclusive o bispo da diocese e o Paco (como era conhecido na vila o secretário do alcaide e escolhido aleatoriamente como  representante do povo, por ser dos poucos que sabia ler e escrever), gera-se então uma acesa discussão sobre como e com que livros deveriam encher a biblioteca. Depois de dadas as opiniões e de não terem chegado a lado nenhum, o representante do povo, e único que ainda não tinha alvitrado, diz:
- Desculpem Vossas Excelências, mas estranho muito não ver nesta reunião um filósofo e um bibliotecário!
Mais estranharam os outros, o facto de o Paco achar estranho. Sem perder tempo, com um semblante inquisitivo e de voz vigorosa, o alcaide exclama:
- E por que raio necessitamos nós de um filósofo!?...
- Bem… – diz a medo o Paco – mais que não seja, tinha dado por falta do bibliotecário

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